NOVA CRÔNICA - Próximo ponto - Eduardo de Sousa

Próximo ponto

Tenho utilizado muito o transporte público ultimamente e vou lhes dizer: Ando, literalmente, curtindo muito!

Fora da fortaleza, que era o carro - na qual eu me sentia confortavelmente seguro e isolado dos riscos do mundo exterior - venho acumulando experiencias fantásticas.
Não encontrei seres de outros planetas (ainda), apesar de muitos parecerem não pertencer à nossa realidade, mas tive oportunidade de conversar, trocar olhares ou pequenos atos educados - como um bom dia, com licença ou agradecimento - com seres humanos da cidade.

São coisas que eu faço normalmente, com pessoas que interajo com frequência, como familiares, amigos e clientes. Agora, com pessoas que nunca havia visto, e que provavelmente nunca mais irei ver, tem sido uma experiência diária muito agradável, mesmo as que muitos não considerariam assim.

Meu trajeto corriqueiro agora é seguir a pé por uns 200 metros até o ponto final do ônibus, que me leva até o terminal com acesso ao metrô e de lá ganho o mundo.

Meu filho, o Tutu, me acompanhou alguns desses dias e vivenciei momentos incríveis observando a atitude dele com as pessoas.

Num dos dias ele conversou com o motorista do ônibus e quis saber para que serviam tantos botões no painel e chegou a comparar com o de um avião; conversou, passando por muitas estações, com uma mulher que fazia as unhas sentada num banco próximo ao nosso no metrô; ficou muito grato com outra que cedeu a mala para que ele sentasse; interagiu com tantos outros que ele só dava um "Oi" e sorria feliz e saltitante.

Hoje mais uma experiência interessante: ao passar pelo acesso do metrô eu guardei o bilhete na carteira e poucos segundos depois ouvi um "senhor, deixou cair isso". O rapaz me entregou algumas notas de dois reais amarrotadas que haviam caído do meu bolso. Fiquei encantado e agradecido com a atitude dele, que, num gesto simples, fez o meu dia melhor.

Quando voltava, num daqueles ônibus articulados, subiram duas mocinhas com a cara maquiada como a de um palhacinho, de um desses projetos que animam e fazem atividades educacionais com crianças hospitalizadas. As palavras decoradas não precisavam ser muito convincentes sobre a boa vontade delas e creio que aqueles trocados que eu iria perder tiveram um destino muito melhor do que voltar para minha carteira.

Não me preocupar com o trânsito, com marchas e direções, tem feito com que eu reflita muito, sobre tudo, principalmente sobre as pessoas e espero me transformar numa pessoa melhor com todas essas experiências, pensamentos e gestos que venho absorvendo.


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