NOVA CRÔNICA: Em pares - Eduardo de Sousa


Em pares


Há uma lógica surpreendente na composição do corpo humano.

Você pode reparar, por exemplo, que temos duas narinas e pensar na necessidade disso. No meu caso, quando a rinite ataca, geralmente é só a narina esquerda que entope e posso respirar com tranquilidade pela cavidade direita do nariz.

Outro órgão em par é o ouvido. Não conheço muito sobre anatomia, mas prestei atenção em alguma aula e aprendi que ajuda no equilíbrio do corpo, fora o fato óbvio de que exitem para ouvir (é sabido também que muitos homens não percebem que existe essa função).

Os olhos, muitas vezes divergem um do outro e insistem em variar em sua capacidade de enxergar as coisas, variando grau e, à vezes, cor. Parece sacanagem quando, ao mesmo tempo, os dois são atacados por ciscos que pegam carona em rajadas de vento. Mas quando ambos resolvem ser encantadores como os da Audrey Hepburn, sorte de quem tem boa visão.

Os braços e pernas, também em pares, complementam com perfeição um ao outro, mesmo que, na falta de um deles, somos capazes de nos virar muito bem.

Dou outros exemplos; como os rins, o lado direito e esquerdo do cérebro, as amígdalas, os pulmões, as nádegas, todos com seu par.

Posso ter esquecido algumas partes do corpo, mas dois órgãos extremamente importantes, em minha opinião, são solitários e nos impulsionam a uma busca implacável por (um certo) alguém que os completem:

Um é o coração, que parece ter a única função de bater para fazer barulho e encontrar seu par em outra pessoa. Engraçado que, de tão perfeito, quando encontramos a pessoa certa, ele bate num ritmo diferente, mais acelerado. Acho até que foi inspiração para aquelas máquinas de localizar metais.

O outro órgão solitário, nem vou mencionar qual é, mas te digo que, se você tiver sorte, seu par será o mesmo que carrega o coração que complete o seu.


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