NOVA CRÔNICA - Premonição - Eduardo de Sousa

Premonição


Ele sofria antecipadamente por tudo.

Desde a infância, quando ingressou no ensino fundamental, o garotinho divagava sobre os amigos que iriam se afastar para sempre ao completar o ciclo de ensino. Na adolescência sofria muito, ao pedir alguma garota em namoro, sabendo que a relação um dia acabaria. No trabalho as reuniões pareciam intermináveis, uma via crucis até que, enfim, o CEO da companhia parabenizar os funcionários promovidos, mesmo sabendo que ele fosse um deles.

O homem feito, que se transformou amargamente, desenvolveu um sentido especial, que ia além do sexto. Era algo entre premonição e visão, e sofria com ainda mais antecipação.

Certo dia, ao tocar a mão de um homem muito velho, e desconhecido até então, pôde ver além da sua morte e reencarnação, uma vida inteira além daquela que carregava aquele corpo surrado pelo tempo.

O ancião, ansioso para saber o que estava acontecendo, perguntou o que havia acontecido e ele respondeu, um tanto envergonhado, com um sorriso patético no rosto:

- Sim, eu o amarei para todo o sempre. - e saiu, com esperança de que aquela vida acabasse logo e que na próxima encarnação seria muito mais feliz ao lado daquele que seria sua futura mulher.


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