Perseguição implacável
Era uma segunda-feira, não como outra qualquer, as ruas não
estavam tomadas por carros como de costume, até parecia que todas as pessoas
estavam de férias.
Ele conduzia seu carro sem preocupação, já que o estresse
também estava de férias, pelas ruas e avenidas vazias observando tudo com uma
sensação de que as coisas se movimentavam numa lentidão semelhante à de um
congestionamento: as árvores que balançavam, as flores que se agarravam e
resistiam ao calor intenso, o córrego fedido e não canalizado, os semáforos com
suas luzes que variavam morosamente de cor, as nuvens paradas que davam aos
prédios uma imobilidade ainda maior.
Seus pensamentos lentos ficaram também confusos, quando ele
percebeu pelo espelho retrovisor uma motocicleta se aproximando rapidamente em
direção ao seu veículo.
Esse descompasso fez com que seu coração saísse de compasso
e quase parasse quando viu o piloto da moto apontar o indicador para o reflexo
da sua imagem.
O motorista não teve dúvida e arrancou seu veículo da zona
de perigo iminente e atravessou o farol vermelho, agradecendo por não haver
nenhum outro carro cruzando seu caminho naquele momento. Pelo espelho lateral
ele percebeu a motocicleta diminuindo de tamanho ao ganhar distância.
Continuou nessa marcha rápida, num contraste a toda
imobilidade da cidade e, quando pensou em reduzir, ele percebeu que fora
alcançado por aquele ser ameaçador sobre duas rodas, que insistia em apontar
aquele dedo indicador em sua direção.
A adrenalina gritou em seu corpo, como gritaram os pneus do
seu carro quando desviou o caminho e entrou bruscamente numa rua à direita. Seu
coração acelerou, no mesmo torque do motor do carro, quando percebeu que ainda
estava sendo perseguido de perto.
Aquele dedo indicador estendido parecia tocar seu nariz e
isso ele não ia deixar acontecer.
A obra no meio do percurso apareceu tão imprevisível quanto
um assalto. Havia caído numa emboscada ao ter que reduzir a velocidade em meio
aos bloqueios na pista.
O motociclista que o perseguia o alcançou rapidamente e ele
pode vir aquele dedo apontado em sua direção e ouvir a voz grave que saia por
entre as brechas do capacete daquele vilão:
- Amigo, sua porta está aberta!